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Uma análise tática dos 3 a 2 contra a Rússia



Crédito foto: FIVB
A vitória da seleção brasileira masculina de vôlei contra a Rússia hoje (26) no Mundial teve todos os ingredientes que o fã da modalidade gosta: emoção, virada, o improvável, reserva entrando e mudando o jogo, duelo tático, dedo do técnico, defesas espetaculares e cinco sets.
Depois de perder os dois primeiros sets por 25 a 20 e 25 a 21, Renan sacou Bruno e colocou William. E o levantador reserva mostrou porque é chamado de mago. Variou o saque, deixou os atacantes na boa, pôs o ponteiro Douglas de novo no jogo e amorteceu vários ataques russos que tentavam se valer da maior estatura. Foi o nome do jogo!
No entanto, uma equipe que pretende bater um adversário como a Rússia – alta e forte no ataque e no bloqueio – precisa apresentar um comportamento tático diferenciado. Era fundamental que o Brasil aproveitasse o ataque nas situações em que o passe chegasse às mãos do levantador, para ter energia e paciência para atacar quando isso não acontecesse. Em contrapartida era importante que não deixasse os russos rodarem quando tivessem que jogar com bolas mais lentas e previsíveis, para minar a confiança dos atacantes em situações que eles estão acostumados a ser eficientes. E, por fim, aproveitar as chances que seriam construídas a partir de defesas nessas circunstâncias.
E se analisarmos as estatísticas – elas continuam existindo mesmo em jogos emocionantes como o de hoje –, veremos que o jogo se desenhou de acordo esses traços.
No primeiro set, o Brasil conseguiu anular a eficiência da Rússia nos ataques com recepção ruim – de 9 chances, os russos rodaram apenas 2 vezes –, porém, não aproveitou os contra-ataques resultantes disso – apenas 2 em 8 oportunidades. Já os russos, anularam todas as 6 chances do Brasil em condições iguais de ataque e pontuaram em 5 de 6 contra-ataques.
No segundo set, a situação começou a se complicar para o Brasil no aproveitamento do ataque com recepção A – foram apenas 5 bolas no chão em 14 chances –, além de somente 2 bolas no chão em 7 recepções que obrigaram a jogar com bolas de segurança. Por esta razão, pouco valeu o aproveitamento de contra-ataque – 100% em 6 bolas.
Depois da entrada de William e Isac e a mudança na distribuição, o bloqueio russo requisitou um GPS para marcar os atacantes brasileiros. Seis passes A e 6 bolas no chão, além de 2 pontos em 3 situações geradas em passes C. Em contra-ataques, 80% de eficácia. Os números não foram muito diferentes do adversário: 7 em 11; 4 em 5 e 100%, respectivamente. Valeu o talento de um Douglas ressuscitado, de um Wallace inspirado e de uma inversão pontual para construir os 25 a 22.
Igualdade quase absoluta no quarto set nos itens analisados: pontos em recepção A – ambos com 7 em 11 chances; pontos em recepção C – 2 em 6 ocorrências; contra-ataques – seis oportunidades para cada lado, com 4 a 6 para a Rússia. Como o set foi decidido? Wallace vai para o saque com 21 a 21 e devolve com 24 a 21, mais a entrada de Lucas Loh, que equilibrou a recepção e a defesa num momento decisivo.
O quinto set não foi um primor de técnica. O rendimento nos tópicos em questão ficou bem abaixo do restante do jogo, mas o aproveitamento de 4 em 5 contra-ataques diante de 2 em 3 dos russos, ajudou na construção dos 15 a 12.
O Brasil folga amanhã, enquanto Rússia e Estados Unidos se enfrentam pelo grupo I. Se os norte-americanos vencerem, os brasileiros já estarão na semifinal. Brasil e EUA jogam sexta-feira (28) ao meio-dia.
Pelo grupo J, um banho de bola da Sérvia para cima da Itália. Quase 12 mil pessoas não conseguiram sequer torcer. Três a zero (25 a 15, 25 a 20 e 25 a 18) para os sérvios em menos de uma hora e meia. Amanhã tem Polônia e Sérvia, que joga por uma vitória para conseguir a vaga na semi.

Comentários

  1. DISCORDO EM PARTES,O LANCE CRUCIAL DESSA PARTIDA FOI O RENAN COLOCAR UMA BOLA EXTRA EM QUADRA TIROU A CONCENTRAÇÃO DO TIME DA RUSSIA, MAS VOU ALÉM NÃO TEMOS TIME PARA JOGAR DE IGUAL PARA IGUAL COM A POLONIA DE KUREK E VAI FICAR AINDA MAIS FORTE COM O LEON E AS EQUIPES EUROPEIAS ESTÃO FICANDO CADA VEZ MAIS FORTES!

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