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Agora é um tetra, um tri, um bi ou um título inédito



A última rodada válida pela terceira fase do Mundial masculino de vôlei valeu por um único set. A Itália precisava vencer a Polônia por 3 sets a zero e não deixar que os adversários fizessem mais de 60 pontos. A espera por um milagre durou poucos minutos, a Polônia triturou os donos da casa por 25 a 14. A partir daí os titulares do atual campeão mundial foram substituídos e a Itália passou a jogar pela honra. Venceu por 3 a 2 num tom melancólico de ocaso de uma geração que não parece ter valores à altura de seus principais craques vice-campeões olímpicos.

Brasil e Estados Unidos, já classificados para as semifinais, não levaram muito a sério a disputa pelo primeiro lugar do grupo. O time sob o comando do assistente Marcelo Fronckowiac – Renan foi suspenso por prática antidesportiva no jogo contra a Rússia – ainda entrou em quadra com Douglas Souza e Thales, mas os norte-americanos improvisaram até um central como ponteiro, para poupar todos que amanhã estarão em quadra para enfrentar a Polônia. Os 3 a 0 serviram para mostrar que o Brasil tem reservas competentes e com condições de contribuir em situações adversas que certamente ocorrerão durante o embate contra a Sérvia.

O Brasil leva vantagem contra os sérvios nos últimos confrontos, especialmente na era Renan dal Zotto. Depois da Rio-2016 foram três partidas, todas vencidas pelos brasileiros, com apenas um set perdido. No ciclo olímpico de 2016, fizeram jogos equilibrados, com três vitórias para cada lado e quase todas as partidas decididas no quinto set. Neste período, a Sérvia, fora dos Jogos Olímpicos, apostou tudo na Liga Mundial e faturou a edição daquele ano. Muitos dos jogadores foram mantidos tanto do lado brasileiro quanto do sérvio e o duelo de amanhã promete ser um capítulo diferente dos confrontos anteriores.

O oposto Atansijevic é o principal destaque do time dirigido por Nikola Grbic, mas não se pode deixar de descartar Ivovic, que defendeu o FUNVIC/Taubaté na última temporada e é bem conhecido dos brasileiros. A força do saque sérvio pode causar estragos e é preciso impedir que os dois centrais cheguem inteiros para bloquear. Lisinac e, principalmente, Podrascanin estão entre os melhores do mundo neste fundamento. O ponto vulnerável, por incrível que pareça é o mais habilidoso deles. O ponteiro Uros Kovacevic, canhoto e relativamente baixo tem dificuldades em jogos em que é caçado pelo saque adversário e costuma ser substituído. Aliás, é também em cima de Kovacevic e Atanasijevic que o Brasil pode explorar seus ataques, Kovacevic não é muito disciplinado nas marcações de bloqueio e pode ser explorado com sucesso pelos atacantes, enquanto o oposto, apesar de ótimo atacante, é um bloqueador tecnicamente mediano.

Na outra semifinal, os Estados Unidos levam vantagem teórica sobre os poloneses. Têm uma equipe titular muito mais técnica e taticamente são tradicionalmente experts em tirar proveito das fragilidades adversárias, algo que não falta no time polonês. A vantagem da Polônia é contar com reservas que, se não são brilhantes, costumam substituir a contento os titulares quando estes não estão bem. Se a Polônia quiser continuar brigando pelo bicampeonato, precisará contar com o oposto Kurek em noite inspirada. O desempenho de Kurek costuma ir do espetáculo à decepção, dependendo da fase da lua.

O Brasil foi campeão três vezes seguidas em 2002, 2006 e 2010. A Polônia, que havia vencido em 1974, foi campeã em casa em 2014. Os Estados Unidos chegaram ao único título em 1986 revolucionando a forma de jogar o voleibol. A Sérvia chegou em segundo no Mundial de 1998, mas nunca foi campeã. Façam as apostas!

Os dois jogos serão em Turim e transmitidos pelo SporTV 2, Brasil e Sérvia começa ao meio-dia e Polônia e Estados Unidos, às 16h15.

Feminino – A seleção feminina estreia no Japão contra Porto Rico à 1h40 da madrugada. O campeonato vai até 20 de outubro. O jogo deve ser fácil e o ideal é não perder sets, pois os resultados contra os times classificados serão levados para a próxima fase. Apesar de dois títulos olímpicos, o Brasil nunca venceu um Mundial. Natália, recuperando-se desde o início do ano de uma contusão, foi confirmada no grupo de 14 jogadoras.

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