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O sistema de disputa e as seleções protagonistas vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Tóquio




 

Este é o terceiro de uma série de textos que compartilhamos para acompanhar a contagem regressiva até a estreia do vôlei brasileiro nos Jogos Olímpicos. Informações complementares estão à disposição no link ao final do texto.

Nas duas primeiras edições dos Jogos Olímpicos, o sistema de disputa do vôlei masculino era de turno único entre todos os participantes, sagrando-se campeão o time que somasse mais vitórias. De 1972 até 1988, os dois primeiros de cada um dos grupos nos quais as equipes passaram a ser divididas disputaram as semifinais, enquanto os terceiros e quartos jogaram para ficar entre quinto e oitavo. Desde Seul-88 a competição masculina tem sistematicamente 12 participantes e a organização do torneio passou a ter o formato que será também repetido em Tóquio.

Serão dois grupos de seis seleções que jogam entre si dentro do próprio grupo. Os quatro primeiros de cada grupo avançam às quartas-de-final e os confrontos serão contra os classificados do outro grupo. Destes jogos eliminatórios, está certo que o 1º colocado de A enfrentará o 4º de B e o 1º de B pegará o 4º de A. Os outros dois confrontos serão definidos por sorteio – ferramenta utilizada desde Pequim-2008 para evitar a “escolha” de adversários por meio de jogos “arranjados” – sendo que o 2º de A pode pegar o 2º ou o 3º de B, e o 3º de A pode encarar o 2º ou o 3º de B. Os vencedores das quartas brigarão por medalhas em duas semifinais que definirão os finalistas e os que disputarão a terceira colocação, sendo que os que vencerem os confrontos de 1º x 4º só se encontrarão na final ou na disputa do bronze.

Para Tóquio, o grupo A está definido com Itália (ITA), Canadá (CAN), Japão (JPN), Venezuela (VEN), Irã (IRI) e Polônia (POL). O grupo B tem Brasil (BRA), Estados Unidos (USA), Argentina (ARG), França (FRA), Tunísia (TUN) e Rússia (RUS). A delegação russa competirá independentemente sob a sigla ROC (em inglês, Comitê Olímpico Russo), por causa do escândalo de doping que suspendeu o país em todas as competições esportivas.

Ao contrário do feminino, as principais candidatas às medalhas no Japão devem apresentar suas formações principais na Liga das Nações que começa esta semana na bolha de Rimini, na Itália. Isso permitirá traçar uma previsão mais consistente para Tóquio. Mesmo assim, nas duas últimas edições da Liga no ano olímpico, os campeões não emplacaram nos Jogos: em 2012 deu Polônia – quinta colocada na Olimpíada – e em 2016, França – eliminada na fase de grupos.

No grupo A, apenas a Venezuela parece estar fora da briga para avançar às quartas-de-final. Itália, Irã e Polônia são os três países que devem brigar pelas primeiras posições do grupo, enquanto Canadá e Japão brigarão pela última vaga. Os canadenses vêm evoluindo, mas alternando boas e más campanhas nos torneios internacionais, por isso, pode surpreender não só com uma classificação, mas também uma posição melhor, como também sucumbir diante dos bravos japoneses.

O grupo do Brasil também não será fácil. Tirando a Tunísia, todos podem passar para a próxima fase, o que fará com que um deles fique pelo caminho. Na Rio-2016, a França perdeu para o Brasil o jogo decisivo e adiou o sonho da medalha olímpica. Teoricamente, a Argentina seria a seleção com menos chances de avançar, mas é bom lembrar que há cinco anos os portenhos ficaram em primeiro num grupo tão forte quanto este. Mesmo assim, não há como não considerar favoritos os campeões das quatro últimas edições dos Jogos: Brasil, Estados Unidos e Rússia.

Confira como as seleções se classificaram e os textos anteriores em: Cacá Bizzocchi (carlosbizzocchi.blogspot.com)

As 11 equipes – além do Japão, dono da casa e pré-classificado – conseguiram o direito de participar dos Jogos em duas etapas. Diferente de anos anteriores, aconteceram primeiramente seis torneios intercontinentais com quatro seleções cada, dos quais apenas o primeiro colocado de cada grupo garantiu vaga nos Jogos.

Desta primeira etapa, disputada em agosto de 2019, classificaram-se Brasil, Rússia, Polônia, Itália, Argentina e Estados Unidos. Enquanto norte-americanos, poloneses russos não tiveram muita dificuldade para conquistar a vaga, o caminho, todavia, não foi nada fácil para Brasil, Argentina e Itália.

A vice-campeão olímpica Itália, mesmo jogando em Bari, teve que fazer uma partida impecável contra a Sérvia na última rodada para se classificar, depois de quase perder para a Austrália no dia anterior. Os 3 a 2 contra os australianos sacudiram os italianos, que não deram chances aos sérvios e garantiram mais uma participação em Jogos Olímpicos com um placar incontestável de 3 sets a 0. 

O Brasil esteve muito perto de ver a Bulgária triunfar em Varna. Depois de perder os dois primeiros sets para o time da casa e ter de quebrar alguns match-points no terceiro set, os brasileiros fecharam a parcial em 32 a 30 e garantiram a vaga com 15 a 11 no tiebreaker. O ponteiro Leal e o oposto Wallace fizeram 42 pontos no jogo e foram fundamentais para reverter a vantagem dos búlgaros e garantir o Brasil em sua 15ª participação em quinze edições.

Em Ningbo, a China quase fez valer o mando de campo, mas tinha dois adversários parelhos: Argentina e Canadá. Depois de perder para os canadenses, os chineses precisariam vencer a Argentina por 3 a 0 ou 3 a 1 para sonhar com a classificação. Mas os argentinos acabaram fechando em 3 a 2 e carimbaram o passaporte para Tóquio com grande atuação de Facundo Conte, que já havia sido o maior pontuador do confronto com o Canadá.

As outras cinco seleções classificadas vieram dos torneios continentais realizados no início de 2020. Na Ásia, deu Irã, que havia perdido da Rússia no intercontinental; na América do Sul, a Venezuela surpreendeu o Chile; Na competição da Norceca, o Canadá bateu em casa a seleção cubana; na África, deu Tunísia na briga contra o Egito; e no torneio mais disputado, o europeu, a França deixou para trás Alemanha, Bulgária e Sérvia, entre outros.

Algumas ausências são sentidas: Cuba, que já havia ficado de fora de Los Angeles-84 e Seul-88 por questões políticas e nas cinco últimas edições foi apenas ao Rio de Janeiro e, mesmo assim, ficou em 11º lugar; Sérvia, campeã olímpica em Sydney como Iugoslávia e campeã da Liga Mundial em 2016; e a Eslovênia, talvez a equipe europeia mais surpreendente dos últimos anos.

Sistema de disputa – Masculino e feminino

Grupo A

Grupo B

1

1

2

2

3

3

4

4

5

5

6

6

Quartas-de-final

QF 1

1

4

QF 2

2 ou 3

2 ou 3

QF 3

2 ou 3

2 ou 3

QF 4

4

1

Semifinal

SF 1

venc QF 1

venc QF 2

SF 2

venc QF 3

venc QF 4

Bronze

perd SF 1

perd SF 2

Ouro

venc SF 1

venc SF 2

 

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