Pular para o conteúdo principal

A trajetória olímpica do vôlei masculino do Brasil


Este é o sétimo de uma série de textos para acompanhar a contagem regressiva até a estreia do voleibol brasileiro nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Além das medalhas de ouro, a história do vôlei masculino se fez com determinação e persistência. Conheça a trajetória dos times que representaram o Brasil desde 1964. 

 

O Brasil é o único país que disputou todas as quinze edições masculinas da competição olímpica de voleibol. De 1964 a 1976, foram dois sétimos lugares, um oitavo e um nono. Depois de uma boa participação em Moscou-1980, veio a sensacional campanha em Los Angeles. A partir de então, a seleção brasileira passou a ser não apenas respeitada, mas também favorita a medalhas. Vamos lembrar como foi essa trajetória.

Para Tóquio-64, a seleção embarcou sem saber muito sobre seus adversários. Num tempo em que imperava o amadorismo no esporte, os poucos jogos entre seleções aconteciam dentro do próprio continente. Como a Europa era a região que concentrava a maioria das forças do voleibol, os brasileiros, apesar de terem conseguido uma ótima colocação – quinto lugar – no Mundial de 1960 realizado no Brasil, não tinham grandes expectativas na primeira edição.

Com o sistema de disputa estabelecido em turno único entre os dez participantes, se prevalecesse a lógica do Mundial de 1962, em que acabou em 10º lugar, o Brasil reencontraria seis adversários mais fortes, que haviam ficado à sua frente, e três contra os quais poderia duelar. E assim foi: com três vitórias contra Holanda, Coréia do Sul e Estados Unidos, a seleção brasileira acabou em sétimo. Entre os destaques da equipe: Feitosa, Décio Viotti, Newdon, Victor Barcellos, Volpi, Hamílton e aquele que viria a ser presidente da Confederação Brasileira de Voleibol e, depois, do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman.

Na Cidade do México, em 1968, o Brasil ficou em nono. Aos remanescentes Feitosa, Décio Viotti, Volpi, Victor Barcellos e José Maria Schwart juntaram-se João Jens, Mário Dunlop, Sérgio Telles e um jovem que viria a se tornar um dos melhores jogadores brasileiros de todos os tempos, Antônio Carlos Moreno. Apesar de um bom jogo contra a terceira colocada Tchecoslováquia (derrota por 3 a 2), a única vitória no torneio foi contra o lanterna México, por 3 a 1.

Em 1972, as 12 equipes foram separadas em dois grupos. Deixando Cuba e Alemanha Ocidental para trás no grupo B, o time brasileiro avançou para a disputa de 5º a 8º. O cruzamento, no entanto, não foi muito favorável, pois a adversária seria a Tchecoslováquia, que ficara em quarto lugar no forte grupo A.  Depois de perder por 3 a 0 para os tchecos, perdemos pelo mesmo placar da Coréia do Sul na disputa do sétimo lugar.

Mesmo assim, estiveram presentes em Munique alguns nomes que se firmariam na seleção nos anos seguintes, entre eles Moreno, Negrelli, Paulo Russo, Luiz Eymard – considerado um dos seis melhores dos Jogos – e Bebeto de Freitas.

Em 1976, voltamos a ficar em sétimo. Perdemos para União Soviética e Japão por 3 a 0 e batemos o Egito – que viria a abandonar os Jogos antes do término da primeira fase – e a Itália. No confronto para a disputa de 5º a 8º, a Coréia do Sul venceu novamente os brasileiros. Contra a Itália, apesar da dificuldade maior (3 a 2) em relação à primeira fase, ficamos com o 7º.

Nesta seleção, fazendo companhia a Moreno, além de José Roberto Guimarães e Suiço, alguns que viriam a formar a Geração de Prata tinham sua primeira chance olímpica: William, Fernandão e Bernard.

O Brasil viria a fazer nos Jogos de Moscou, em 1980, sua melhor campanha até então. Alguns anos antes, Nuzman, já a frente da CBV, vinha modernizando os métodos administrativos e tentando aproximar o vôlei brasileiro do modelo de treinamento adotado por algumas das principais potências mundiais. Moreno, Bernard, William, Amauri, Renan, Montanaro, Bernardinho, Xandó e Badalhoca, sob o comando de Paulo Russo, compunham o que viria a ser a base da medalha de prata de quatro depois.

Em Moscou, o resultado mais expressivo e mais impressionante até então na história olímpica brasileira foi a vitória por 3 a 2 contra a Polônia, que defendia o título olímpico. Depois disso, o time ganhou confiança e venceu, quem diria, a Tchecoslováquia, no cruzamento de disputa de 5º a 8º. Embalado, despachou a Iugoslávia na briga pelo 5º lugar, por 3 sets a 2, depois de mais de duas horas de jogo.

É verdade que a ausência das forças comunistas em Los Angeles facilitou um pouco a trajetória brasileira, porém, não há dúvidas que tivemos em 1984 um momento decisivo para o que hoje é o voleibol brasileiro no cenário internacional. Para discorrer sobre a importância desta geração seria necessário mais do que este espaço. Assim, vamos nos valer da síntese.

A campanha na primeira fase, muitos desconhecem, quase deixou a seleção de fora de uma disputa por medalhas. Depois de bater a Argentina por 3 a 1 e a Tunísia por 3 a 0, o Brasil perdeu para a Coréia do Sul por 3 a 1. Como os Estados Unidos haviam vencido os coreanos por 3 a 0, a última rodada decidiria os dois semifinalistas. No jogo da manhã, a Coréia venceu a Argentina por 3 a 2, resultado que classificava antecipadamente os norte-americanos, mas deixava os brasileiros com a obrigação de vencer para ir às semifinais. Os 3 a 0 contra os EUA selaram o avanço do Brasil.

Na semifinal, 3 a 1 contra a Itália. Depois de perder o primeiro set, o time se acertou e não deixou os italianos fazerem mais de 10 pontos nos três sets restantes. Medalha garantida, a final foi uma repetição às avessas da partida da fase de classificação. Os norte-americanos sobraram e devolveram os 3 a 0. De qualquer forma, a melhor campanha nos Jogos estava sacramentada e nunca mais o vôlei brasileiro seria o que fora até então.

Os primeiros medalhistas da história do vôlei brasileiro foram: William, Renan, Bernard, Xandó, Fernandão, Bernardinho, Badalhoca, Amauri, Rui, Montanaro, Marcos Vinícius, Maracanã e Bebeto de Freitas na regência.

Uma crise entre atletas e comissão técnica comandada pelo técnico sul-coreano Yang Wan Sohn fez com que a CBV reconvocasse Bebeto de Freitas para dirigir a equipe em Seul. (Se você leu até aqui, por favor, escreva apenas seu nome no campo de comentários daqui do blog, do Facebook, do Twitter ou do Instagram). Mesmo diante dos problemas e do pouco tempo de trabalho que Bebeto teve pela frente, a seleção fez uma boa campanha na primeira fase, vencendo inclusive a União Soviética por 3 a 2. No entanto, acabou perdendo dos Estados Unidos (3 a 0) a semifinal e, dois dias depois, a disputa do bronze para a Argentina (3 a 2).

Permaneceram deste grupo, alguns que formariam a base do time campeão olímpico em Barcelona: Maurício Lima, Carlão, Pampa, Paulão e o remanescente Amauri.

Após o ouro em Barcelona – já relembrado no texto nº 4, juntamente com os de Atenas e Rio – a expectativa de uma repetição da dose em Atlanta foi frustrada por uma campanha inconsistente. As derrotas para Argentina e Bulgária na fase de grupos obrigou os brasileiros a bater Cuba, até então invicta, na última rodada, para não ficar fora das quartas-de-final. Depois dos 3 a 0 contra os cubanos, o Brasil viu a chance de medalha ir embora depois da derrota por 3 a 2 para a Iugoslávia. Na disputa de 5º a 8º, bateu primeiro a Argentina e depois Cuba, garantindo um honroso 5º lugar. Foi a primeira vez que o campeão da edição anterior não ficou entre os quatro primeiros.

Em Sydney, o Brasil fez a pior campanha desde 1976. Depois de uma primeira fase irretocável, com 5 vitórias e apenas um set perdido, a fase eliminatória reservava surpresas não muito boas para a seleção. A derrota para a Argentina nas quartas por 3 a 1 jogou a equipe para a disputa de 5º a 8º. O prejuízo ficou menor depois de vencer Cuba por 3 a 2 e avançar à disputa do 5º lugar. Mas a campeã olímpica Holanda devolveu a derrota da primeira fase e ficou com o 5º lugar. Alguns aletas, apesar da campanha, foram importantes nas conquistas dos anos seguintes, como Giba, Dante, Gustavo e André Heller.

Nas mãos de Bernardinho, a partir de 2001, a seleção brasileira alcançou seu melhor rendimento da história. Ao ouro em Atenas seguiram-se a prata em Pequim e em Londres. Em 2008, o primeiro lugar no grupo B garantiu ao Brasil enfrentar o quarto colocado do outro grupo, a China. Apesar de jogar em casa, os chineses não ofereceram resistência e perderam por 3 a 0. Na semifinal, a Itália, adversária da final em Atenas também não conseguiu brecar a seleção brasileira – 3 sets a 1.

Mais uma final, desta vez contra os Estados Unidos. Devolveríamos a derrota de 1984 da qual Bernardinho se lembrava tão bem? Depois de vencer o primeiro set, os brasileiros foram dominados nos três sets seguintes por um time comandado pelo oposto Stanley, MVP e maior pontuador dos Jogos. Marcelinho, Giba, Dante, André Heller, André Nascimento, Gustavo e Serginho formaram o time-base.

Em Londres-2012, o Brasil ficou em segundo lugar no grupo de classificação, algo que não acontecia desde 1996, depois de perder para os Estados Unidos. No entanto, o caminho até a final foi tranquilo: 3 a 0 na Argentina nas quartas-de-final e 3 a 0 na Itália na semi.

O algoz brasileiro na final, desta vez, foi a Rússia e mais uma vez um oposto atrapalhou os planos por mais uma medalha de ouro. Deslocado do meio de rede para a saída no terceiro set, Muserskiy fez 31 pontos e ajudou a Rússia a virar o jogo que estava 2 a 0 para o Brasil, devolver a derrota da primeira fase e ficar com a medalha de ouro. Bruno, Wallace, Sidão, Lucão, Dante, Murilo e Serginho foram os titulares nos Jogos.

A vitória na Rio-2016 também já foi contada no texto nº 5. E a história de Tóquio-2020? Alguém se arrisca a prever?

Comentários

  1. Wynn & Encore Casino Hotel Las Vegas, NV - MapYRO
    Wynn Las Vegas and 서귀포 출장샵 Encore Las Vegas consist of two 용인 출장마사지 hotel 강릉 출장샵 towers with a total of 5,748 spacious hotel rooms, suites and villas, approximately 192,000 강릉 출장안마 square feet 김제 출장안마

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Negros e negras no voleibol olímpico brasileiro – uma análise sociodesportiva

Negros e negras no voleibol olímpico brasileiro – uma análise sociodesportiva Carlos Eduardo Bizzocchi Este breve ensaio não pretende de maneira nenhuma esgotar o assunto tampouco se aprofundar num tema que exigiria conhecimentos mais sólidos sobre sociologia ou etnografia e também uma pesquisa mais ampla. Ele é, de certo modo, um convite à discussão sobre o preconceito racial e sobre o efetivo papel inclusivo do esporte. O futebol brasileiro começou a romper a barreira da exclusão racial já na década de 1920 e, em pouco tempo, várias agremiações com negros e brancos dividiam espaço nos campos e espaços públicos. Na Copa do Mundo de 1954, a divisão étnica entre os titulares era quase meio a meio. Enquanto isso, o voleibol do país fechava-se dentro de clubes tradicionais, redutos conservadores e particulares, sob regimentos internos ainda impregnados do preconceito racial sobrevivente de uma abolição da escravatura que completava pouco mais de meio século. Aceito

Coração e competência

Crédito foto: CBV A seleção brasileira de vôlei dispensou a calculadora e fez as duas melhores partidas do Grand Prix na última sexta-feira (21) e, principalmente, ontem (23). Enquanto muita gente fazia contas e duvidava da capacidade de jogadoras e comissão técnica, elas mostraram que ainda há lenha para queimar debaixo da brasa que sobrou sob as cinzas da Rio-2016. Duas condições interdependentes do vôlei serviram para impulsionar a equipe: quem não é bom em determinado fundamento precisa criar sua identidade em outro; e não dá para ser competitivo com um fundamento que esteja abaixo do aceitável. O sistema defensivo se aprimorou na defesa e o contra-ataque contou com uma dose reforçada de paciência e malícia, enquanto a recepção, que não é um primor, comportou-se dentro de um nível aceitável e não permitiu que o adversário se valesse de tal fragilidade. Com um rendimento invejável no bloqueio, as comandadas de José Roberto Guimarães se superaram contr

O fator T

O fator T T de Tiffany, de transexual, de testosterona Apesar do recesso de fim de ano, a Superliga feminina de vôlei continuou nas manchetes. Nos dois últimos jogos, em que defendeu o Vôlei Bauru (SP) como titular, a oposta Tiffany, primeira transexual a disputar o torneio nacional, fez 55 pontos em nove sets. Nas mesmas rodadas, a oposta da seleção brasileira Tandara fez 24 pontos em sete sets defendendo o Vôlei Nestlé. Tiffany até 2015 disputava o campeonato holandês masculino. Após cirurgia para mudança de sexo, tratamento para redução da produção de testosterona e consequente liberação da Federação Internacional, disputou a reta final da Liga Italiana A2 pelo Golem Palmi no começo de 2017. Sua participação por lá gerou críticas e até ameaças de recursos na justiça comum pelos adversários. O programa Roda de Vôlei já havia levantado a questão da participação de Tiffany entre as mulheres num esporte em que a potência muscular predomina e decide. Apoiados na opinião d