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A falta que faz uma assessoria pessoal

Três meses atrás, Paulo Henrique Ganso se submetia uma cirurgia complementar de outra realizada anteriormente. Retornou antes do prazo previsto para a recuperação e enfrentou o Corinthians pela semifinal da Libertadores. Logo depois do insucesso, juntou-se à seleção brasileira na preparação para os Jogos Olímpicos. Ficou no banco em Londres e, sem motivação e sem medalha de ouro, foi dispensado por Mano Menezes.

Voltou a um Santos perto da zona de rebaixamento do Brasileirão e em meio a um imbróglio que se arrastava havia meses, um aumento salarial pedido pelo meia. A reivindicação foi conduzida de forma desastrada por ambas as partes. Em meio à discussão e aos desgastes físicos e emocionais decorrentes do retorno apressado e das frustrações em relação ao baixo rendimento, o futebol de PH praticamente sumiu.
Nesse momento, faltou-lhe uma assessoria que o orientasse na crise. O jovem atleta precisava de um apoio que não o deixasse diante dos leões que rodeiam a presa e a fazem se precipitar e cair na armadilha. Alguém que colocasse algumas frases em seu discurso e proibisse outras – como elogiar um clube que viesse a fazer uma proposta, ainda mais um arquirrival, ou mencionar valores –, evitando a qualquer custo a paixão em suas declarações. Faltou-lhe um porta-voz que se oferecesse em sacrifício a dirigentes e torcedores.

A chuva de moedas na Vila Belmiro praticamente o enxotaram do Santos. A voz da arquibancada só se cala com exibições de gala. E Ganso está longe de poder dar um “cala boca” em seus detratores, porque seu futebol está em baixa, sua cotação no mercado da bola despencou, sua condição física está abaixo do ideal e a única torcida que o embalou até hoje agora o rejeita.

Se Ganso tem sua parcela de culpa, é por ingenuidade, não por maldade. É hoje um garoto acuado no círculo central com medo de chegar perto dos alambrados. Precisa chamar o jogo para si e mostrar que seu talento não adormeceu, mas não tem forças psicológicas para isso. Um gol talvez não resolva e um beijo no escudo soaria como hipocrisia. O apoio declarado de companheiros e de Muricy pode ajudar, assim como um banho de carinho da torcida santista e uma real valorização da diretoria podem trazer um pouco da imprescindível tranquilidade ao ex-ídolo.

No entanto, acho que só uma saída para outros ares, de preferência distante do circuito da rivalidade estadual, pode devolver a genialidade ao craque. Um caminho que se torna mais difícil, pois a depreciação da mercadoria nos últimos meses faz com que a multa por recisão contratual se tornasse hoje abusiva. Ganso não vale o que valia em 2011. Alguém vai pagar para ver? Ou teremos mais um caso de cumprimento de contrato semelhante ao que aconteceu com o Atlético Paranaense e Dagoberto, em que o atleta saiu menos Dagoberto para o São Paulo?

Ganso sempre foi uma joia para o Santos, virou pedra semipreciosa, mas decididamente não é uma bijuteria.

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