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Bom começo

Crédito: Divulgação / FIVB

O primeiro final de semana na Liga Mundial foi muito positivo para a seleção brasileira. Depois de perder por 3 sets a 2 para a Polônia, bateu o bom time do Irã e repetiu a dose contra a Itália, na reedição da final olímpica. O Brasil ocupa a terceira colocação na classificação geral com 7 pontos.
Contra os poloneses, faltou à equipe um tanto de ousadia e criatividade. O side-out falhou demais, ora na qualidade da recepção ora na falta de habilidade para rodar contra o bloqueio montado adversário. E entre altos e baixos, o quinto set teve apenas um lado jogando forte o suficiente para ganhar.

Passada a ansiedade da estreia, o time se encontrou contra o Irã a partir de alguns detalhes. A entrada de Thales foi surpreendente, pois estabilizou a recepção que vinha sofrendo com os saques mais fortes. A regularidade maior no saque deu o ritmo que faltou na estreia e a segurança nos demais momentos do jogo em que a paciência é importante, como na defesa e no contra-ataque.

Contra a Itália, apesar da ausência de Juantorena e Zaytsev, mais uma vez a seleção brasileira mostrou que a freguesia está estabelecida. É impressionante como os italianos caem de produção diante dos brasileiros. Não conseguem manter um padrão de jogo constante e nos momentos decisivos do set permitem que o placar se dilate a favor do Brasil, ficando sem condições de buscar o resultado. Foi assim novamente.

O balanço da participação brasileira nesta primeira rodada da Liga, todavia, vai além da mera análise dos resultados em si. A revolução mais significativa veio com a entrada de Otávio e a de Éder no dia seguinte no lugar de Lucão. Sem sua principal referência, Bruno cresceu de produção e passou a redistribuir de outra maneira seus levantamentos. Evandro passou segurança ao levantador brasileiro nos momentos mais difíceis, o que deu a Lucarelli um pouco mais de confiança e facilidade para atacar em algumas situações. Os centrais variavam mais os ataques, sendo acionados dentro de um planejamento de jogo mais equilibrado, o bloqueio adversário passou a não ser tão eficiente diante da maior variabilidade e o time se reinventou.

O Brasil sai de Pesaro com um grande alívio, pois a desconfiança era (ainda é) grande em relação à continuidade de um trabalho de 16 anos de vitórias sob o comando de Bernardinho. Os próximos jogos não serão menos difíceis, pois os novos jogadores e formações serão mais bem estudados pelos adversários, mas Renan deu motivos para que a credibilidade possa ser depositada em mais um início de ciclo olímpico.


O caminho, sem dúvida, é muito comprido, mas começou com firmeza. O recado foi dado: continuem respeitando meu tamborim!

Comentários

  1. gostei, como sempre, de tua análise Cacá! Você é profissional; eu, torcedora. Continuo não gostando do Maurício Borges, nem com maionese (risos). Os centrais foram realmente muito bem, destaque: Otávio. Agora, conta pra mim: o que está acontecendo com o Lucão? Abraço.

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  2. Oi, Eliane. O Lucão está numa fase ruim, creio que deve melhorar. Quanto ao Maurício, não o considero um jogador excepcional, mas bom. E extremamente útil no atual momento de escassez de ponteiros passadores que vivemos.

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