Um tema específico da pesquisa científica vem sendo
discutido amplamente nos últimos anos, a publicação. Além da pressão que sofrem
os pesquisadores em produzir e publicar artigos regularmente e as consequências
psicológicas e éticas desta exigência, a democratização do acesso aos
resultados é outro ponto que domina a cena.
Ou se quebra o monopólio de exclusividade dos periódicos das
grandes editoras ou as pesquisas continuarão restritas aos estritos redutos
daqueles que dispõem do acesso disponibilizado a custos exorbitantes. A impossibilidade
de acesso mais amplo impede a divulgação e a popularização das descobertas das
ciências, porém, o paradoxo maior é que os órgãos financiadores da pesquisa,
sejam públicos ou privados, gastam duas vezes: nos créditos destinados aos
cientistas e no processo de publicação e divulgação, ao serem obrigados a pagar
para publicar e depois ter acesso aos resultados.
A Folha
de S.Paulo publicou alguns valores cobrados e pagos atualmente neste
circuito. A Science e a Nature cobram R$ 116 por artigo lido
(sem direito a releitura) e R$ 986 por assinatura anual. Para que a difusão se
amplifique, as universidades bancam esses custos. A USP, por exemplo, gastou em
2016 quase R$ 10 milhões para disponibilizar os artigos em sua plataforma
integrada de bibliotecas, enquanto a Capes – principal órgão nacional fomentador
de pesquisas científicas – desembolsou R$ 402 milhões.
Há algumas semanas, a Europa lançou a primeira investida
para virar este jogo. A partir de 2020, todos os pesquisadores financiados por
uma série de 12 agências de fomento à pesquisa, capitaneadas pela Comissão
Europeia, deverão publicar seus estudos em periódicos de acesso aberto. A
medida deve potencializar o ritmo das pesquisas e permitir a viabilização mais
rápida de políticas públicas e inovações tecnológicas.
Com acesso democrático, a ciência chega mais fácil e mais
rápido a pesquisadores fora dos principais feudos e centros, possibilitando, a
partir da informação antes restrita a poucos, novas pesquisas, adaptações,
regionalizações e crescimento e desenvolvimento de regiões periféricas. Além
disso, as verbas destinadas à pesquisa científica se multiplicam sem os custos
adicionais atrelados à publicação e divulgação.
O ideal seria ainda (conforme sugestão de uma palestrante do
TED.com que não consegui relocalizar) que os pesquisadores fossem obrigados a
publicar seus estudos em jornais de grande circulação. Imagine, assim como
acontece com os balanços financeiros das empresas, encartes em O Globo, Folha,
Estadão, Zero Hora, Correio, A Tarde etc. com as últimas novidades no campo científico.
E isto servindo ao pesquisador, para efeito de currículo, tanto quanto a publicação
num periódico A1.
Despertando do sonho, tomara que o exemplo europeu
se globalize.
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