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Porque torço para o Sada/Cruzeiro e para o Rexona

Pode parecer leviano a um comentarista de voleibol expressar tão descaradamente tal afirmação, mas espero que minha escolha seja compreendida. Na verdade, as duas equipes são representações de uma preferência que extrapola uma mera denominação clubística. Minha opção é pela excelência em si.
Torço para ambos como vibrava em suas áureas fases com Roger Federer e antes com Pete Sampras, com Mike Tyson e Floyd Maywheater, com Usain Bolt e antes com Carl Lewis, com o Barcelona e Real Madri. Até mesmo no futebol, meu fanatismo pelo Palmeiras deu lugar à condescendência e passei a apreciar os times que mostravam bom futebol – até o Corinthians de Tite me motivava, por incrível que pareça.

Penso que a evolução em qualquer área é maior quando há uma referência de ponta a ser buscada, igualada e superada. É a materialização da excelência que apresenta claramente os parâmetros a serem atingidos, para que se consiga ser melhor, superar-se e atingir um patamar acima do que até então apresentava-se como intransponível ou sequer inimaginável.

Se os outros times não conseguem batê-los é porque não atingiram o nível necessário para isso. Não foram capazes de sublimar o estágio que aquelas referências estabeleceram para a modalidade. E por esta razão não merecem estar no mesmo patamar de seus adversários. E quando algum conseguir o feito – o que irremediavelmente sempre acontece – é porque superou os limites determinados por aqueles.

Manter-se no topo é muito mais trabalhoso do que chegar até ele. E só os excelentes o fazem. Os bons ganham eventualmente um ou outro torneio, até conquistam vitórias contra aqueles, mas não se mantém no desgastante e pulsante andar de cima dos andaimes. Lá no alto, o vento bate mais forte, a sensação de desequilíbrio é angustiante, a ilusão da soberba cedo ou tarde derruba os incautos. Não é lugar para os fracos, nem para os meramente bons.


Minha torcida transcende o próprio esporte. A humanidade, a ciência e o conhecimento superam-se quando precisam alcançar patamares mais exigentes. Quando a mediocridade impera, revivemos tempos medievais de estagnação. O mínimo necessário substitui o melhor possível, e o homem se contenta com o trivial. Sem referências estacionamos, sem ter noção de onde podemos chegar.

Comentários

  1. analisando sob teu ponto de vista, parece bastante plausível, ainda que permaneça sempre 'aquela sensação' chatinha do 'sempre mais do mesmo' e isso me incomoda porque parece que estas equipes são mesmo imbatíveis, insuperáveis (Sada e Rexona). E sinto, em alguns atletas, um certo quê de soberba (no olhar e nas atitudes). Tomara que esteja enganada e seja apenas uma cisma.

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  2. Oi, Eliane. Também acho que o ser humano, com o tempo, acaba se deixando entregar à soberba. Mas este é também um fator que o faz mais fraco, não é?

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