Pular para o conteúdo principal

As derrotas não devem ser ignoradas


A semifinal olímpica do vôlei feminino em 2004, quando o Brasil perdeu para a Rússia por 3 sets a 2, é inesquecível para todos que a assistiram. Porém, para quem estava na quadra, aquele 26 de agosto ficou gravado na pele e na alma. O placar marcando 24 a 19 no quarto set fazia crer que a inédita final estava muito próxima, mas ela nunca veio. E para mim, que era assistente-técnico naquela situação, a chance de uma medalha olímpica nunca se concretizou.

Onde buscar consolo nesse momento? Como o esporte nos ensina a superar uma frustração dessas? Como se livrar do pesadelo e seguir em frente? Como não considerar a derrota como um fracasso e, a partir dela, construir caminhos futuros?

Esse foi um dos desafios que enfrentei e todos e todas que foram protagonistas nesse capítulo marcante da história do esporte brasileiro precisaram superar. De algum jeito é necessário não deixar as derrotas para trás, mas trazê-las conosco para construir, com seus ensinamentos, a superação imprescindível para ser melhor que antes e manter a cabeça erguida. Abandonar os reveses é desperdiçar ensinamentos e desconsiderar a essência do esporte: a eterna gangorra entre conquistas e insucessos.

Logo depois da semifinal, precisei permanecer no ginásio para assistir ao nosso adversário na disputa do bronze olímpico. Em minutos, precisei desligar a chave e me concentrar em outro objetivo – menor, é verdade – mas que precisa se transformar no mais importante que poderia existir a partir do instante que nosso último ataque foi para fora.

O esporte nos mostra o tempo todo que a vida segue, independentemente do que se consegue ou não realizar. São elas que nos fazem mais cascudos, mais resilientes e resistentes e nos fazem construir novos objetivos para prosseguirmos na caminhada que não termina ali. Desde que realmente aprendamos com elas.

Visite a página https://www.cacabizzocchi.com/ e conheça mais sobre nossas palestras. Atendemos empresas, escolas, instituições, grupos e equipes esportivas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Negros e negras no voleibol olímpico brasileiro – uma análise sociodesportiva

Negros e negras no voleibol olímpico brasileiro – uma análise sociodesportiva Carlos Eduardo Bizzocchi Este breve ensaio não pretende de maneira nenhuma esgotar o assunto tampouco se aprofundar num tema que exigiria conhecimentos mais sólidos sobre sociologia ou etnografia e também uma pesquisa mais ampla. Ele é, de certo modo, um convite à discussão sobre o preconceito racial e sobre o efetivo papel inclusivo do esporte. O futebol brasileiro começou a romper a barreira da exclusão racial já na década de 1920 e, em pouco tempo, várias agremiações com negros e brancos dividiam espaço nos campos e espaços públicos. Na Copa do Mundo de 1954, a divisão étnica entre os titulares era quase meio a meio. Enquanto isso, o voleibol do país fechava-se dentro de clubes tradicionais, redutos conservadores e particulares, sob regimentos internos ainda impregnados do preconceito racial sobrevivente de uma abolição da escravatura que completava pouco mais de meio século. Aceito

Coração e competência

Crédito foto: CBV A seleção brasileira de vôlei dispensou a calculadora e fez as duas melhores partidas do Grand Prix na última sexta-feira (21) e, principalmente, ontem (23). Enquanto muita gente fazia contas e duvidava da capacidade de jogadoras e comissão técnica, elas mostraram que ainda há lenha para queimar debaixo da brasa que sobrou sob as cinzas da Rio-2016. Duas condições interdependentes do vôlei serviram para impulsionar a equipe: quem não é bom em determinado fundamento precisa criar sua identidade em outro; e não dá para ser competitivo com um fundamento que esteja abaixo do aceitável. O sistema defensivo se aprimorou na defesa e o contra-ataque contou com uma dose reforçada de paciência e malícia, enquanto a recepção, que não é um primor, comportou-se dentro de um nível aceitável e não permitiu que o adversário se valesse de tal fragilidade. Com um rendimento invejável no bloqueio, as comandadas de José Roberto Guimarães se superaram contr

O fator T

O fator T T de Tiffany, de transexual, de testosterona Apesar do recesso de fim de ano, a Superliga feminina de vôlei continuou nas manchetes. Nos dois últimos jogos, em que defendeu o Vôlei Bauru (SP) como titular, a oposta Tiffany, primeira transexual a disputar o torneio nacional, fez 55 pontos em nove sets. Nas mesmas rodadas, a oposta da seleção brasileira Tandara fez 24 pontos em sete sets defendendo o Vôlei Nestlé. Tiffany até 2015 disputava o campeonato holandês masculino. Após cirurgia para mudança de sexo, tratamento para redução da produção de testosterona e consequente liberação da Federação Internacional, disputou a reta final da Liga Italiana A2 pelo Golem Palmi no começo de 2017. Sua participação por lá gerou críticas e até ameaças de recursos na justiça comum pelos adversários. O programa Roda de Vôlei já havia levantado a questão da participação de Tiffany entre as mulheres num esporte em que a potência muscular predomina e decide. Apoiados na opinião d