Uma final inédita e improvável. Nas competições anteriores, Holanda e Brasil não haviam incomodado muito os então favoritos. Na Copa do Mundo de 1991, o Brasil ficara em sexto e os holandeses sequer participaram; na Liga Mundial, finalizada quase um mês antes, os europeus terminaram em quarto e os brasileiros em quinto. A verdade é que os registros olímpicos teriam um novo campeão depois daquele nove de agosto de 1992, no ginásio Sant Jordi, em Barcelona.
O jogo seria realizado às oito horas da manhã de domingo,
pelo horário de Brasília. O torcedor brasileiro se alvoroçou e levantou cedo,
como fazia para assistir às corridas de Senna e Piquet. Mas daquela vez a movimentação
foi maior, ouviam-se fogos de artifício espocando antes da partida e as
conversas da noite anterior não deixavam dúvidas de que a audiência seria
maciça. Era um Brasil mergulhado numa grave crise ética na política, com o
presidente Collor sendo acusado de corrupção, a inflação mensal na casa dos 20%
e o futebol nacional vindo de uma ressaca da Copa do 90 que ficaria registrada
como Era Dunga.
Os atletas do vôlei jogavam com alegria, amor e vibração.
Além da qualidade técnica, a empolgação contagiava o brasileiro carente de
motivos para se orgulhar de algo genuinamente nacional que parecera morrer com
a seleção de Telê Santana. E aí o vôlei ressurgiu, oito anos depois de a
geração de prata chegar em segundo nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. No
entanto, o ponto de mutação na trajetória do esporte em relação à aceitação
popular foi a transformação da prata em ouro. Talvez a história fosse diferente
se, diante da exigência tupiniquim por resultados, a nova geração ficasse
estigmatizada como “outra que morreu na praia”.
Diferente da semifinal, apesar do equilíbrio do início do jogo,
os brasileiros não pareciam se importar muito com o adversário. A ausência de
Pete Blangé, levantador de 2,05m, e a vitória por 3 a 0 na primeira fase davam
a confiança necessária. Sem muita dificuldade o primeiro set foi fechado em 15
a 12. O atacante holandês Ron Zwerver, que havia sido escolhido antecipadamente
como MVP dos Jogos – procedimento nunca mais repetido pela Federação Internacional
–, pouco conseguia fazer.
Enquanto isso, Marcelo Negrão continuava distribuindo
bolachadas no saque e o levantador Maurício – o qual o técnico adversário Ariel
Selinger havia dito em entrevista que poderia ser facilmente marcado – deixava
Giovane e Tande na boa para rodar diante de um bloqueio gigante e eficiente que
não conseguia se encontrar. Paulão e Carlão comandavam o bloqueio e contribuíam
com a experiência de alguns anos de mais rodagem. Na área de aquecimento, Talmo, Amauri, Jorge Édson, Pampa, Janélson e Douglas completavam este grupo mágico.
A Holanda foi se desmantelando com o correr do tempo. O
segundo set foi ainda mais fácil, 15 a 8. E o terceiro foi um verdadeiro
passeio. O Brasil estava, depois de abrir 12 a 5, tão confiante na vitória, que
os sacadores passaram a forçar o saque em demasia. Era a ânsia de sair de suas
mãos a tão sonhada medalha de ouro. Era a vontade de ouvir seu nome eternizado
pela voz de Luciano do Valle, um dos responsáveis por o Brasil estar num lugar ao
sol na preferência nacional e entre os melhores do mundo. O último ponto não é necessário
descrever, pois está eternizado na memória o saque avassalador de Marcelo
Negrão.
Com média de 24 anos de idade – 23 entre os titulares – e com
apenas três sets perdidos, a seleção masculina de vôlei recebia uma medalha que
nenhum outro esporte coletivo havia conseguido para o Brasil na história dos
Jogos Olímpicos.
O país saía às ruas para comemorar, e não era por causa do
futebol.
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