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Mostrando postagens de agosto, 2017

Vendo o ouro à distância

Acompanhei os Jogos Olímpicos partida a partida. A cada vitória brasileira se reforçava a impressão de que a nova chance com a qual os outros me confortavam diante da decepção do corte jamais aconteceria. Pode haver outras oportunidades, mas não uma “nova”. As coisas só acontecem invariavelmente uma única vez no tempo e no espaço. A chance é aquela. Como disse Heráclito: “Um homem não se banha duas vezes no mesmo rio porque nunca é o mesmo homem e nunca é o mesmo rio”. Havia pensado até em ir a Barcelona por conta própria, bancando passagem, hospedagem, ingressos. Mas o orgulho falou mais alto. Trabalhara para aquilo, queria ir como profissional, não como turista. Eu não admitia ter de pagar para aplaudir uma conquista que eu ajudara a construir com suor diário. Lembrei de minhas argumentações derradeiras, tentando reverter a decisão. As justificativas por parte do supervisor eram de que não havia lugar na Vila Olímpica e, mesmo que ficasse fora da vila, não me seria possível entr

A primeira medalha a gente nunca esquece

Uma final inédita e improvável. Nas competições anteriores, Holanda e Brasil não haviam incomodado muito os então favoritos. Na Copa do Mundo de 1991, o Brasil ficara em sexto e os holandeses sequer participaram; na Liga Mundial, finalizada quase um mês antes, os europeus terminaram em quarto e os brasileiros em quinto. A verdade é que os registros olímpicos teriam um novo campeão depois daquele nove de agosto de 1992, no ginásio Sant Jordi, em Barcelona. O jogo seria realizado às oito horas da manhã de domingo, pelo horário de Brasília. O torcedor brasileiro se alvoroçou e levantou cedo, como fazia para assistir às corridas de Senna e Piquet. Mas daquela vez a movimentação foi maior, ouviam-se fogos de artifício espocando antes da partida e as conversas da noite anterior não deixavam dúvidas de que a audiência seria maciça. Era um Brasil mergulhado numa grave crise ética na política, com o presidente Collor sendo acusado de corrupção, a inflação mensal na casa dos 20

A semifinal contra os carecas

Crédito foto: UOL A história da semifinal contra os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992 começou ainda na fase de classificação. Os norte-americanos jogavam contra o Japão e perdiam o quarto set por 14 a 13. O atacante Samuelson, em vez de ser punido com o cartão vermelho do árbitro – o que daria a vitória ao Japão no set por 15 a 13 e no jogo por 3 sets a 1 –, recebeu o segundo amarelo. O jogo prosseguiu e os Estados Unidos venceram por 3 a 2. No entanto, a Federação Internacional, em julgamento após a partida, reverteu o resultado. O fato gerou revolta no elenco norte-americano que, solidário a Samuelson – careca por causa de um problema metabólico –, resolveu raspar a cabeça. Isso numa época em que ficar careca por iniciativa própria era no mínimo estranho. A partir dali, o time não perdeu mais nenhuma, batendo inclusive a campeã mundial Itália. Chegava à semifinal com mais força e contra a sensação da competição, a jovem e empolgada equipe brasile

Vai começar a final do Grand Prix! Pouco importa.

Crédito foto: CBV Escrevo antes da final do Grand Prix, pois penso que a aprovação ao início do processo de renovação da seleção feminina de vôlei é inquestionável. Cercado de dúvidas, críticas e desconfianças, o grupo – incluídas comissão técnica e jogadoras – vem desde o começo da temporada mostrando que pode fazer um bom papel no próximo ciclo olímpico. Se vai realmente conseguir é outra história. Mas depois de chegar à final do Grand Prix, não se pode negar que o caminho está sendo trilhado. A avaliação de um trabalho deve ser baseada em algumas referências que muitas vezes ficaram no nível subjetivo. Se formos mais pragmáticos, o Brasil deixou para trás, em pleno processo de renovação radical, as duas finalistas da Rio-2016 com seus elencos praticamente idênticos ao de menos de um ano atrás. Deixou para trás outro rival que investiu também na remodelação, os Estados Unidos, além da Holanda, quarta colocada nos Jogos Olímpicos com a mesma formação deste ano. Talvez,

Uma história gloriosa entra na fase de mata-mata

Há exatos 25 anos, a seleção brasileira masculina de vôlei entrava em quadra em Barcelona, no Palau d’Esports, para disputar as quartas-de-final dos Jogos Olímpicos. O adversário era o Japão, de Nakagaichi, Minami e Ohtake, que havia batido os Estados Unidos na fase de grupos e vencido os próprios brasileiros na Copa do Mundo de 1989. Em clima de ansiedade, a equipe sensação da primeira fase – saíra em primeiro lugar num grupo que tinha Holanda, a ex-União Soviética (CEI) e Cuba – mostrava certo nervosismo já no aquecimento. Eram jogadores jovens, ainda em formação, que esperavam “estourar” dali a quatro anos, em Atlanta. Marcelo Negrão e Giovane tinham 19 anos, Tande, 22. Juntavam-se a eles no time titular Maurício, Carlão e Paulão. No banco: Talmo, Douglas, Janélson, Pampa, Jorge Édson e o mais experiente de todos, Amauri, medalha de prata em Los Angeles. No comando, outro novato, disputando seu segundo torneio internacional como técnico daquela equipe: José Rober