Pular para o conteúdo principal

“Libertadores é isso aí!”


“Libertadores é isso aí!”

Crédito: Djalma Vassao/Gazeta Press

Assistir a jogos da Libertadores me deixa excitado, mas também angustiado. A máxima “Libertadores é isso aí” é uma caixa de Pandora onde tudo se encaixa, desde a catimba até a violência extracampo. No entanto, creio que a frase possa refletir muito mais do que simplesmente a competição futebolística.

“América Latina é isso aí” talvez amplie convenientemente o que se pretende expressar. A própria latino-americanidade é o que aí se esconde. Toda uma cultura – cultura que neste caso expressa o conjunto de hábitos – e forma a identidade de um povo que se estende por todo um continente e encontra no futebol um modo místico e depositário de ocultar um jeito malandro de ser, um molde de caráter raso normalmente classificado como criativo.

Uma cultura que se orgulha de se valer de subterfúgios para vencer, de encontrar meios pouco dignos para sair de campo orgulhoso por um empate ou até uma heroica vitória. É uma cotovelada desleal desferida às escondidas da autoridade, como se o ocultamento garantisse a lisura do ato. É o fingimento de lesão que permite ficar na maca (ou em casa) e atrase o andamento do jogo (ou do tempo que deveria ser destinado ao trabalho). É o revezamento entre os jogadores para distribuir botinadas no atleta mais habilidoso (aquele que faz com que o agressor seja menos bom, menos visto, não tão bem pago, menos idolatrado).

É um jeito conivente com a feiura da vida e com as práticas que deveriam nos permitir sublimar diante das dificuldades do dia a dia. É a punição a quem reclama e não a quem faz o antijogo –como aconteceu ontem com o palmeirense Dudu e não com o uruguaio que permaneceu à frente da bola impedindo que o show continuasse. É também o que permite que Maduro prenda Capriles, que tenhamos tido em nossa história recente silenciadores como Médici, Videla, Castro e Pinochet. Geralmente quem tem o apito do poder, é bom em dar ordens, mas não em colocar a casa em ordem.

Isso não é Libertadores, é uma cultura latino-americana da qual não podemos ter orgulho. É a mediocridade a serviço da manutenção e da retroalimentação de um estado de espírito que nos mantém na miséria física, econômica, social e moral. Nem sempre um gol redentor surge aos 52 minutos de jogo e nem podemos nos valer sempre das mesmas inúteis e enganosas ferramentas – como as frases feitas – para garantir a mirrada vantagem.

Comentários

  1. Felipe Melo... ah Felipe Melo... como um jogador só, apenas um jogador de futebol de técnica e caráter discutível, consegue ser tão idiota, tantas vezes. O pior é que a torcida o enxerga como "o raçudo com espírito de Libertadores". Indico pra ele análise, terapia ou um mosteiro zen-budista. Se nada der certo, manda ele pra casa do Big Brother. O Boninho vai adorar.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em tempo:técnica e carater discutíveis. Ponto.

      Excluir
    2. Melhor a casa do BBB, Carlos Fernando. Para o bem do budismo! Rsrs

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Resposta ao texto "Eu não gosto de vôlei", em Blog do Menon

Caro, Menon, Em seu post de hoje, você despertou uma boa dose de ira dos apaixonados pelo vôlei. No papel de comentarista e técnico do esporte, acho-me no direito de entrar na discussão, não para atacá-lo – como alguns fizeram –, afinal defenderei sempre o direito à opinião e à expressão das preferências particulares, sejam elas quais forem. Mas ultimamente as pessoas têm se valido de justificativas apressadas para fundamentar seus desgostos. Pela pouca familiaridade com o objeto de desagrado, acabam sendo superficiais e equivocados. Vou me ater a pontos que considero pouco plausíveis em sua busca por tentar explicar porque não gosta de vôlei e me abster de comentar outros que se referem a opiniões e pontos de vista próprios. Primeiramente, o fato de o vôlei ter campeonato todo ano. A Liga Mundial é talvez o quarto torneio entre seleções em importância no calendário internacional, por isso é anual. Antes dela, há os Jogos Olímpicos, o Campeonato Mundial e a Copa do Mundo, ...

Coração e competência

Crédito foto: CBV A seleção brasileira de vôlei dispensou a calculadora e fez as duas melhores partidas do Grand Prix na última sexta-feira (21) e, principalmente, ontem (23). Enquanto muita gente fazia contas e duvidava da capacidade de jogadoras e comissão técnica, elas mostraram que ainda há lenha para queimar debaixo da brasa que sobrou sob as cinzas da Rio-2016. Duas condições interdependentes do vôlei serviram para impulsionar a equipe: quem não é bom em determinado fundamento precisa criar sua identidade em outro; e não dá para ser competitivo com um fundamento que esteja abaixo do aceitável. O sistema defensivo se aprimorou na defesa e o contra-ataque contou com uma dose reforçada de paciência e malícia, enquanto a recepção, que não é um primor, comportou-se dentro de um nível aceitável e não permitiu que o adversário se valesse de tal fragilidade. Com um rendimento invejável no bloqueio, as comandadas de José Roberto Guimarães se superaram contr...

O fator T

O fator T T de Tiffany, de transexual, de testosterona Apesar do recesso de fim de ano, a Superliga feminina de vôlei continuou nas manchetes. Nos dois últimos jogos, em que defendeu o Vôlei Bauru (SP) como titular, a oposta Tiffany, primeira transexual a disputar o torneio nacional, fez 55 pontos em nove sets. Nas mesmas rodadas, a oposta da seleção brasileira Tandara fez 24 pontos em sete sets defendendo o Vôlei Nestlé. Tiffany até 2015 disputava o campeonato holandês masculino. Após cirurgia para mudança de sexo, tratamento para redução da produção de testosterona e consequente liberação da Federação Internacional, disputou a reta final da Liga Italiana A2 pelo Golem Palmi no começo de 2017. Sua participação por lá gerou críticas e até ameaças de recursos na justiça comum pelos adversários. O programa Roda de Vôlei já havia levantado a questão da participação de Tiffany entre as mulheres num esporte em que a potência muscular predomina e decide. Apoiados na opinião d...