Fonte:Reprodução
Há umas três rodadas, apesar de
palmeirense, venho torcendo para que o Flamengo seja campeão brasileiro, e também
da Libertadores. Sou filho da Copa de 82 e, desde então, em vez da camisa ou do
escudo, minha preferência recai sempre sobre o futebol bem jogado. Quem é de
minha geração sabe porque falo isso.
Depois da queda daquele time
fantástico comandado por Telê Santana diante da Itália em Sarriá, o mundo achou
por bem considerar que no futebol mais vale quem ganha jogando feio do que quem
perde jogando bonito. E que retranca e chutão é sinônimo de pragmatismo. Os
filhos de 82, no entanto, aprenderam que futebol ou é arte ou é perda de tempo,
é prazer ou é exercício banal de ocupação de tempo, é beleza ou é masturbação
com luva de boxe. E uma taça é mera perfumaria.
O que me leva a buscar uma
televisão de boteco que esteja passando o jogo do Flamengo numa noite de quarta-feira
à noite é a certeza da coragem em campo, do gosto pelo risco, da busca pelo gol,
ainda que o Vasco da Gama faça quatro, ainda que o placar lhe seja desfavorável.
É esse efeito lisérgico que busco depois de 82 no futebol e que me faz
perseguir as reinações em campo de Guardiola, Klopp e agora de Jesus.
Cheguei a ver Pelé, Gérson,
Jairzinho, Tostão, Rivellino, Ademir da Guia... cresci vendo Zico, Júnior, Sócrates,
Falcão... É impossível se contentar com pouco, com algo que não almeje ao menos
reverenciá-los no templo em que se fizeram deuses. Por isso gosto de Gabriel,
Bruno Henrique, Aarão, Gérson buscando não imitá-los, mas prestar uma homenagem
à beleza inspiradora que embalaram o sonho de virem a se tornar jogadores de
bola. Nenhum deles quis ser profissional porque viram Mário Rossini rachar Zico
no meio ou times se fechando em canastra para garantir o zero a zero, cada um
adormeceu, com certeza, abraçado à redonda e revendo pela milésima vez um drible
mágico, um gol improvável ou uma jogada musicalmente arquitetada.
Torço pelo Flamengo e pelo
contágio. Que 2020 comece com os céticos copiando o time que ganha, ainda que
não tenham consciência do que isso signifique. Que a coragem de arriscar jogar
bonito – porque sem beleza não há arte que valha a pena – torne-se regra neste
universo pragmático. Porque se o Flamengo perder, estaremos mais uma vez sob a
tirania dos pessimistas e dos covardes.
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