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O vôlei brasileiro vai bem (mal), obrigado!


Enquanto a memória do torcedor está fresca do espetáculo proporcionado por FUNVIC/Taubaté e Sesi-SP e por suas torcidas nas finais da Superliga, muita coisa está acontecendo na área de serviço. As seleções se apresentam e os torneios internacionais logo farão com que se esqueça que sem clubes não há seleções nacionais.
As estrelas da modalidade, mesmo diante de uma crise (mais uma) que se avizinha em período de renovação de patrocínios, ainda recebem boas propostas para defender os principais clubes brasileiros e, mesmo que estas não lhes sejam razoáveis, têm a possibilidade de migrar para mercados europeus.
O problema maior aflige aqueles que compõem os mais de 90% restantes. São os jogadores que se estabelecem entre os medianos, os mais experientes, os novatos em busca de espaço. Estes vivem uma expectativa cruel por chances que talvez nem venham. As equipes da linha de frente acenam com renovações de patrocínio, ainda que com reduções, mas os que ficaram fora das semifinais passam pelas mesmas dificuldades de anos anteriores: redução do interesse de investimentos e de valores disponíveis.
Não bastasse isso, alguns dos clubes (quase metade deles) que disputaram a edição deste ano da Superliga estão devendo – alguns até cinco salários – para seus atletas e membros da comissão técnica. Outros ainda devem para quem os defendeu na temporada 2017-2018. Alguns destes parcelaram suas dívidas em 12 vezes – como se fosse possível ir ao supermercado e comprar 1/12 do que se deveria comprar ou saldar empréstimo e estouros de limites bancários com tais parcelas mais de um ano depois.
A história não acaba aqui. Para poder se inscrever na CBV para a nova temporada, os clubes devem apresentar uma declaração assinada pelos atletas de que todas as dívidas com eles estão saldadas. Para pressioná-los a assinar, alguns dirigentes afirmam que esta é a única forma de eles receberem o que lhes é devido. Assinando, eles perdem as provas jurídicas que poderiam lhes garantir receber pelo que já foi trabalhado.
Quem já está montando o elenco para a próxima temporada tem, com o orçamento reduzido, todas as justificativas para reduzir custos com este pessoal e jogar, diante da lei desigual da oferta e da procura, com o famoso: “se não quer, tem quem queira”. E assim, ano a ano, o esporte competitivo deixa de ser atrativo aos jovens talentos que precisam buscar seu sustento.
Não podemos viver sem valorizar nossos ídolos, mas uma dúzia de ídolos não faz uma modalidade sobreviver. O pessoal do “chão da fábrica” é que faz a festa continuar.


Comentários

  1. Prof. Caca , algumas dúvidas, por desconhecimento da minha parte: isto também acontece com o Voley feminino ? Ou é pior ? As empresas podem descontar no IR o que gastam com o patrocinio de alguma modalidade esportiva? Os Contratos são somente por uma temporada ? Ou existem Clubes que fecham patrocinio por 2 ou 3 anos. As Prefeituras também participam dos custos de uma equipe ? Sejam quais forem as respostas, é triste constatar para onde vamos na próxima Olimpiada.

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  2. Carlos, o vôlei masculino tem sofrido mais, porém o feminino também passa por dificuldades semelhantes. Algumas empresas se valem de leis de incentivo federais ou estaduais. Empresas podem escolher o período de patrocínio, mas não são raros os casos em que um contrato firmado por 2 ou 3 anos seja rescindido antes disso (quase sempre sem nenhum ressarcimento). As prefeituras não podem mais colocar grana, devem colaborar com instalações e equipamentos. As seleções nacionais, no curto prazo, não devem sofrer nenhum impacto, a menos que os valores de patrocínio da CBV diminuam. No longo prazo, há previsões pessimistas, mas também esperança que o que já foi conquistado pelo vôlei seja valorizado. Fomentar as seleções é assunto para outro texto bem mais longo.

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    Respostas
    1. Querido Mestre Cacá,

      Parabéns pela lucidez e muito obrigado por ser uma voz tão importante e representativa do nosso amado voleibol.

      Sim, tempos árduos nos assombram! Minha inquietação é: será que sobreviveremos? Será que alcançaremos resultados tão bons quanto os de outrora?

      Forte abraço, Mestre!

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    2. O tempo e as atitudes dirão... Abraço

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  3. PELA VOLTA DA LIGA UNIVERSITARIA BRASILEIRA, ESSA SUPERLIGA SUCO CONCENTRADO, SEMPRE OS MESMOS, SEMPRE OS/AS ATLETAS ESTÁ FALIDA, NÃO SE TEM SEQUER UMA RENOVAÇÃO E VAI FICAR PIOR COM A LIGA NACIONAL AMERICANA (NVA) NOS MOLDES DA NBA, VAI SER UMA DEBANDADA DE ATLETAS!

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Resposta ao texto "Eu não gosto de vôlei", em Blog do Menon

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